Poesia espĂ­rita
Poesias EspĂ­ritas
AS LUNETAS

(Fábula)

De ouro, púrpura e opala, os grandes refletores,
A refletir do dia o seu declínio em cores,
Deixava pensativo o camponês Simão;
Em seus olhos assim uma lágrima brilha.
Esse imenso clarão na alma dele fervilha
E um profundo sentir lhe invade o coração.
Simão não é um homem de ciência,
Não conhece a matéria e as mecânicas leis;
Mas tem mais em bom-senso; ele tem consciência;
Ele é inteligente e modesto por vez.
No fervor de seu devaneio,

Tais nomes murmurava: Alma, Deus, Criador,
Quando um riso de alguém com deboche lhe veio,
Surgiu ao lado seu. Quem era o zombador?
Era o senhor seu filho!... Um moço imberbe ainda,
Mas diplomado já... que de sábio se guinda.
– Menino, eu admiro o esplendor

Desse harmônico quadro, tão grandioso,
Vejo em meu coração, creio com amor.
– E o filho co’ironia, exaltado e vaidoso:
Vós vedes, o dizeis, e credes... está bem!
Quanto a mim nada vejo e nada de mais tem.
– Com chistes ou graças velhacas,
Opinoso e insistente em se dando razão,
O jovem bacharel olhava o espaço então,
Com suas lunetas opacas.

Sabedores materialistas,
De pretensiosos tais vós pertenceis as listas,
Vossas demonstrações falíveis, incompletas,
Não estão nas vossas lunetas?

Dombre
R.E. , outubro de 1869, p. 435